segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A Morte da Besta do Apocalipse em Lá Menor

A média luz, posso parecer meio gás.
Num ou outro momento mais fugaz, posso parecer ficar para trás.
Posso ficar na sombra, passar por despercebida.
Posso sorrir, se me apetecer.
Posso ver semear ventos, calma,
Sabendo que no fim, tempestades, também verei colher.
Posso parecer inerte, mas nunca paro.
Não parto para a violência e não é por cobardia.
E simpatia também não.
É uma regalia de quem primazia a sabedoria de ponderado ser.
Estabelecer prioridades, tranquilizar vontades, manter posturas.
É definir subtilmente posições e limites.
É não enveredar por caminhos descendentes, não proferir gírias ordinárias.
Posso permitir que me insultem, fazer-me de parva,
Deixar que a fera se gaste e desista.
E, quando o sangue arrefece, estamos no meu território.

- Podes grunhir, animal feroz! O que foi? Perdeste a voz?

Deixo que a luta seja tua porque, talvez, não valha a pena lutar pelo que reclamas teu.
Ou talvez valha porque não é de ninguém, senão de si mesmo.
Podes espernear, praguejar, podes levantar a sobrancelha que,
Ficaste para outrora.
Acredito que sejas um leopardo com pés de urso, cabeça de leão, e sete pedras na mão.
Deve custar sentires-te estagnar, ver que eu pareço ter as mãos vazias e,
No entanto, ser na minha cama que o que para ti não passa de um troféu, dorme.
Querias!

domingo, 15 de janeiro de 2012

A Prostituta

  A prostituta caminha pelas ruas da cidade decrépita. Já anoiteceu há cerca de 5 horas. Não lhe interessa saber, com exactidão, o tempo. Sente-se a pairar algures num universo paralelo isento de 4ª dimensão.
  Há pouca luz e poucos são os que se deixam iluminar. A maior parte já se entregou a naturezas de outra ordem, que não da luz. Mas a prostituta não se esconde e, enquanto se encosta ao portão de metal, mais frio que a própria noite, de um armazém caído no esquecimento, ergue a cabeça.
  Abre o seu casaco de camurça e pelo verde decadente. Sobre a pele nua tem apenas uma camisa em chiffon, que deixa adivinhar formas de mulher, de alguém que não ela. Treme de frio mas, rapidamente, o seu interior repleto de nada e açúcar, se inflama.
  Os carros vão passando. Param. É este. Entra e, é na entrega que a sua mente voa. Conclui:

“O trabalho é bom. O sexo é bom. Ambos são necessários.
Quando o trabalho é o sexo, o bom transforma-se em mau. O prazer deixa de o ser, para se tornar noutra coisa. Um veneno de espécie corrupta e danosa, qualquer coisa como marshmallows.
O trabalho passa a ser mecânico e de tanto desafiar o que mecânico não é, rasga.
Morre-se pelos sentimentos alheios, morre-se por ser demais sem se ser nunca de si mesmo.”

 Levanta a cabeça, arranja a camisa, limpa a boca, sai,“Adeus”. Volta ao seu posto e apercebe-se que morreu. Não pode ser sua outra vez porque se deixou algures.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Madrid, me gustas!

  Na rua Alonso del Cano há um apartamento espectacular...É central, espaçoso, ecléctico, mas sobretudo, acolhedor!


  Não sei se foi o movimento urbano-alegre, se foram os mercados gourmet, as praças cheias de vida, bares Imperfectos, restaurantes tipo loft, restaurantes crudeveganos com sumos, absolutamente deliciosos, de cacau puro e plátano. Se foram os bairros, a retrospectiva YSL, as ruas, os bilhetes de metro, a figura hilariante do mind the gap do metro, os antiquários que rodeiam a feira do Rastro ou uma ou outra preciosidade de loja. Atravessar estradas, a correr, de ténis, descer ruas, devagar, de saltos....Pensando bem, talvez tenham sido as luzes.

  Gosto de reformular ideias. Aliás, gostei de perceber que estava errada. Que Madrid tem mais para oferecer do que, provavelmente, eu tenho para lhe dar.

  Foi qualquer coisa como um gap no tempo. De dia estou em Lisboa, de madrugada estou em Madrid. Não há horas nem entregas. Não há pressão nem saudade. Houve só eu, três pessoas maravilhosas e, Madrid.