domingo, 11 de novembro de 2012

Got too deep, but how deep is too deep?

Ontem à noite cometi um crime.
Ontem à noite escrevi numa parede do Bairro Alto.
Ontem à noite escrevi, com caneta lavável, "Whatever people say I am, that's what I'm not" na parede que faz esquina com o nº3 da Rua da Barroca.
Ontem à noite enquanto escrevia, pediram-me abruptamente para parar.

Parei.

Ontem à noite, passados 10 minutos de ter obedecido ao pedido da funcionária do bar no nº3, eu e alguns amigos fomos alvo de violência gratuita por parte de dois seguranças off the record.

Estavam vestidos de preto, não tinham mais de 1,75m, um com gel e outro de cabeça rapada.
Ambos repletos da musculatura típica exigida aos seguranças nocturnos e na posse de um cassetete.

Nós estávamos na nossa.
Éramos sobretudo raparigas e, foi sobretudo nas raparigas que bateram.

Houve quem entrasse em nossa defesa, por estarmos claramente em desvantagem.

Lembro-me de perguntar o porquê aos que me agrediam.
Lembro-me de retaliar, porque aconteça o que acontecer, nunca permitirei que me batam, seja por que motivo for.
Considero-me pacifista e, como tal, enquanto me tentava defender liguei ao 112.
Um amigo fez o mesmo. Sem efeito.
Posto isto, sou empurrada. Aproximo-me, batem-me com o cassetete na cara.
Ao cair, protejo a cara com as mãos, esfolando o pulso, magoando o dedo anelar esquerdo e fazendo algumas nódoas negras nos joelhos.

Fomos à polícia. Fomos com num carro de patrulha ao bar do nº3 da Rua da Barroca, onde nos negaram a existência de qualquer segurança.
Curioso.

Teremos que identificar os agressores para avançar com a queixa, a conselho dos agentes da Pj.
Trabalho necessariamente feito por nós, deslocando-nos regularmente ao bar onde fomos agredidos, para poder apanhar em flagrante a colaboração dos dois homens com a gerência do espaço.
Sugeitamo-nos portanto a uma nova agressão.


Hoje acordei com o dedo anelar esquerdo roxo e tem vindo a piorar ao longo do dia. Não tenho a certeza que esteja partido, mas provavelmente está.
Vou agora ao hospital, onde terei de dizer que caí porque se disser que fui agredida os custos serão inflacionados e pagos por mim, na eventualidade de nunca se vir a identificar os agressores.

Confesso que perdi a esperança em qualquer tipo de justiça.

Cometi um crime bastante vulgar mas fui também vítima de um crime não tão vulgar, totalmente menosprezado.


"Last night these two bouncers and one of em's alright, the other one's the scary one.
His way or no way, totalitarian. He's got no time for you. Looking or breathing. (...)

I thought a thousand million things that I could never think this morning.
Got too deep, but how deep is too deep?
This town's a different town today. This town's a different town to what it was last night.
You couldn't have done that on a Sunday"
- From The Ritz To The Rubble, Whatever People Say I Am, That's What I'm Not, Arctic Monkeys, 2006 -














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