quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Cabo Sem Dor e Tormenta

Se soubesse para onde ruma este navio...

Não gosto de perder o norte por nada. Gosto de o perder em alguém.
De o oferecer em pérola bruta.
Ir polindo-o, com a força das ondas parece-me tão mais correcto.
E correcto é o que souber bem.
Como o vento da nortada na pele semi-coberta.
Como o frio que não o chega a ser porque alguém me incendiou quando as cinzas se pareciam perpetuar.
A vista para o lago e para os pinheiros, para a praia, os raios de sol que me acordam e me abraçam com a força do cosmos que já não é pai nem mãe, que é de mim para mim.
A força que é para dar.

Te dar.

Sempre que der.

Se não houver partilha não há ser,

Portanto quero partilhar.

Perdi o meu amuleto preferido.
Era uma âncora. Tinha-o preso a um fio de prata que se partiu. E ao partir deixou-me ficar sem ele.
Fiquei eu, sem bóia.
A perda foi boa, porque a bóia sou agora eu e eu não me vou embora.
Era dourada, era-me sagrada.
É-me agora nova. E vai prendendo, atracando...

A água voltou a ter sabor. Já não me afoga. É potável mas não é doce. Dá-me sede de novo.
Um trago a laivos do desconhecido, porém desliza naturalmente e arrepia-me ao descer pelas costas.

Tira-me o sono e adormece-me aconchegada.
Vem de um depósito carregado de bipolaridade filtrada por paladares mais refinados.
Chove inesperadamente, apesar de aguardada,
Porque há muito que aguardava por algo que não conhecia ainda forma/matéria/corpo.
E, quando chegou, sem se apresentar, porque apresentada já estava,
Entrou na minha circulação. Pompeou outra camada-coração.
Não me é chão ou conforto.
Não me é garantida nem fugidia, é o que é.
O que será, o que pode nunca chegar a ser, mas que já chegou certamente a existir, por oposição à desertidão .
É-o em 4 finos que não são frágeis mas que são membros.
É fresco e vem iniciar-se num outro início de mim.

Se soubesse para onde ruma este navio,
Se escolhesse para onde o levar...
Atracava-o no meu peito, num fio de prata que não se partisse com tempestades.
Nunca controlaria as minhas vontades, porque já perdi a minha âncora e a trajectória move-me noutras direcções, agora ocidentais.

O temporal já passou e esta brisa tem um beijo meigo.
Agora, encosta-te no meu peito, enquanto me deito.

Sem comentários:

Enviar um comentário